segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Adolescência Antecipada

A garotada de dez onze anos não se identifica mais como criança. Responsa- bilidade nossa, também, que temos tido pressa em colocar as crianças no mundo dos adultos.
Conversamos com crianças pequenas e oferecemos explicações como se pudessem entender a complexidade de determinados fatos do mundo adulto e, ao lidar com eles, possibilitamos que ocupem locais exclusivos dos adultos.Estabelecemos contratos (combinados) como se pudessem maduramente cumprir sua parte. Exigimos que façam escolhas como se já soubessem arcar com a renúncia e tivessem autonomia para tanto.
Outro inquietante aspecto a ser abordado neste momento é a entrada precoce das crianças dessa idade em relacionamento de caráter erótico e afetivo. Crianças de onze anos ou até menos têm solicitado aos pais permissão para namorar e tem usado ofensas de caráter erótico para intimidar colegas.
Quando as crianças pedem licença para namorar, é preciso ouvir o pedido alem das palavras pronunciadas, o discurso não expresso. Crianças dessa idade não costumam pedir autorização para transgredir regras, fazem o que querem e fazem escondido, mesmo sabendo que não deveriam. Se pedem é sinal de que não conseguem dar conta sozinha e de que precisam do adulto.
A vontade de “namorar” foi plantada de inúmeras formas e elas nem sabem se querem mesmo. É bem provável que não, já que ainda tem outros interesses muito mais pertinentes ao mundo infantil. Mas, do mesmo modo que não têm discernimento para perceber isso, não têm condições de fazer frente à pressão social para que assim se comportem.
Talvez seja exatamente a proibição dos pais o que elas buscam e precisam. Afinal, é muito mais fácil responsabilizar o “ pai careta” ou a “mãe chata” por qualquer restrição ou diferença.
É preciso, também, ouvir a idéia que elas têm sobre namoro. Quando uma garota que completaria 11 anos me contou que tinha namorado, perguntei o que faziam juntos. “ Fico encostada nele, pego na mão, beijo”, disse. Quando perguntei se também conversavam, ela reagiu com um sorriso e um suspiro, que interpretei como “ Em que mundo você vive?”
É isto: a idéia que as crianças têm do namoro –construída com a nossa permissão- está ligada às sensações corporais apenas, não mais ao diálogo que busca o conhecimento mútuo, tampouco às emoções e ao compromisso. ...Não dá para encarar essa situação como uma” inocente brincadeira de faz-de-conta”. Não nessa idade. Isso ocorre antes dos seis anos, quando as crianças imitam a vida dos adultos.
Rosely Sayão Folha de S.Paulo 18/09/2008

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